Eu sei
que descobri o maior perigo de viver.
Perigo e
dor. A solidão me abraçou como uma madrasta.
E chorava comigo suas lágrimas geladas.
Você foi embora, envolto nos braços frios da morte e não retornou.
E chorava comigo suas lágrimas geladas.
Você foi embora, envolto nos braços frios da morte e não retornou.
Foi sem avisar, sem pompa, sem chamar atenção.
Bem simplesmente, como você era mesmo.
Bem simplesmente, como você era mesmo.
Naquele dia, seus olhos se fecharam e em um momento, o sol se apagou
e a escuridão dominou minha alma.À noite, eu sentava na cama, abria a janela e olhava as estrelas.
Eu olhava e esperava que elas me vissem.
Eu esperava
que elas me contassem onde você estava.
Elas
piscaram para mim com compaixão, mas não me diziam nada.
Um dia, parei
de perguntar. As lágrimas pararam de cair.
Aquela
tristeza imensa estava lá dentro, mas seca.
Eu vi que o
medo não me podia mais prender.
O medo de
que você não voltaria, porque agora era real,
Não era uma brincadeira de esconde-esconde.
Você não vai voltar. Mesmo.Nunca.
Algo dentro
de mim se atrevia a me dar instruções:
‘faça algo
com esse espaço extra’,
‘faça algo
com estas horas sem sentido que se arrastam para o nada.’
Mas como
fazer algo novo no meio de uma dor antiga?
Ela é
teimosa e já anunciou que não vai sair.
Eu me vi
pensando que fui feliz por tanto tempo, mas não contei os dias,
Eu não
escrevi em um diário, não me lembrava de todos eles,
mas eu sabia
que existiram dias felizes e que foram muitos.
Porém isso
tudo não era nada, pois eu estava de mãos vazias.
Eu me vi
pensando que talvez eu devesse começar a contar os dias,
Escrevendo
coisas em um diário. Então os dias não poderiam desaparecer.
E que tal
mudar as coisas no lugar, mudar a mobília, respirar outro ar?
Pegar uma
mala vazia e viajar, sentar no convés de um navio e,
enquanto o
mar desenhasse as ondas,
Eu tiraria
uma lembrança da bagagem e outra, e mais outra,
e jogaria, na vastidão das águas, uma por uma,
até que toda a vida velha se fosse.
Eu poderia, finalmente, eu e aquela mala vazia, viver outra vida,
porque
havia ainda algum tempo,
e
quem sabe, algum espaço fora o nada.