sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Não sejas médico
Nas minhas andanças e pesquisas, lendo sobre a história de Bragança, encontrei esse texto, muito interessante e até engraçado. A grafia é a da época. Me intrigou ver algo escrito a tanto tempo, por alguém que desconheço mas no entanto, revelou-me fielmente a opinião. Mistérios da vida...
Rosamaria
Não sejas médico
O indivíduo que julga poder ser agradável em tudo é vitima de uma ilusão. É absolutamente impossível agradar a todos. O redator de um jornal é o primeiro que descobre essa tendência do gênero humano. O ministro de um culto sabe também com o que se faz ou se deixa de fazer. O médico é outro personagem que tem que lutar mais nesse sentido. Se o médico veste-se bem e usa chapéu algo, diz o povo que é um médico figurino; se porém, não cuida de seu vestuário, acusam-no de falta de dignidade. Se freqüenta a sociedade, anda à cata de popularidade. Se visita seus clientes quando estão bons, acusam-no de explorá-los indo para jantar, ou pedir dinheiro emprestado. Se vai à igreja, é por hipocrisia, tratado de tirar partido mediante as simpatias religiosas da comunidade; se não vai, é um infiel ou socialista. Se a mulher do médico não paga a visita que lhe fazem, é orgulhosa; se paga, fal-o para chamar clientes, a quem seu marido depena. Se quando sai de carro, anda depressa, fal-o para dar impressão que o doente é de importância. Se anda devagar, é porque não se importa que os doentes morram antes que chegue. Se o doente cobra saúde, foi devido à Providência; se o enfermo morre, sua morte atribui-se ao médico. Se o médico é sociável e conversador, diz o povo, que não precisa de médico que conta o que sabe; se é taciturno ou silencioso, dizem que deveria animar seus enfermos. Se fala de política, o médico não deveria ter opinião política e se não fala, é um homem que se acomoda a tudo sem opinião própria. Se não apresenta logo sua conta, é com o fim de evitar que o paciente chame outro médico; se apresenta logo, é porque desconfia ou está precisando de dinheiro.
Poderíamos encher um capítulo, com as tribulações de um médico.
Página 78-79
Autor provável (a confirmar ): Waldemar Ferreira
Bragança Bi-Centenária
Edição de 1964
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