Eu não tenho mais agenda. Eu não quero mais ter agenda. Resolvi que não vou comprar uma nova. Percebi que a agenda me atrapalha. Primeiro porque eu quero anotar tudo, cada coisa, tarefas misturadas com pensamentos e desenhos. Aquilo vai ficando uma rabisqueira. Segundo porque ela me estressa. As coisas não acontecem só porque estão escritas em um papel. Escrevê-las no papel nos dá uma sensação de controle, mas é uma ilusão.
Agenda de papel, agenda no celular. Ah, tenha dó. A gente não vive, mas anota. Se foi pra anotar, prefiro escrever um texto, uma história. Acho que nasci contadora de histórias. Minha mãe era contadora de histórias. Culpa dela. A agenda não nos faz mais eficientes, porém nos torna mais sofridos, estressados. Se for pra controlar alguma coisa, é melhor ter uma secretária. Eu não nasci pra controlar nada. Talvez, com alguma sorte, eu possa criar alguma coisa. Isso sim, é um propósito. É uma veia que lateja em mim, a criação. O controle deixo pra outras pessoas. Há quem tenha talento pra isso.
O que eu vou fazer hoje? Se a resposta não estiver na minha cabeça logo após eu acordar, é porque não é tão importante assim. E se não é tão importante assim, pra que a pressa? Eu não corro mais pra nada. O tempo é a coisa mais estranha do mundo. Você tem mas não pode dar. Você tem mas não pode guardar. Se estiver sobrando, gasta mas se estiver faltando nada o repõe. O mundo grita e esperneia porque quer o meu tempo, a minha atenção. E eu gasto meu tempo com coisas que os outros querem que eu faça ou pense. Me chamem de egoísta mas eu preciso de tempo comigo. Onde já se viu, a pessoa mais importante do mundo pra mim não ter o meu tempo? Quando digo mais importante, não quero com isso parecer pretensiosa. É a mais importante porque eu moro nela. Eu e eu. Não tenho como fugir disso. E essa pessoa que eu sou foi sempre o meu maior desafio. Como funciona? Quando quebra, como conserta? Então, a vida segue. Irregular. Indomável. Imprevisível. Indescritível. Incontrolável. Inagendável. Livre como o vento. E como o vento, vem, bate, sacode de leve (ou não) a gente como um trigo. E quem sabe leve a palha, que não presta pra nada. E fique o grão, o momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário