domingo, 27 de julho de 2008
Nós
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A pequena cidade me parece sempre igual, sempre pequena, cercada por gente estranha e turista que vem apreciar a quietude que não tem.
Sempre que posso, volto. Sempre que volto, presto atenção, para ver se entendo este lugar.
A estrada de acesso é simplesmente vergonhosa. O asfalto já se foi há muito. Quilômetros e quilômetros de buracos e pó, subindo a montanha.
Mas é com graça que a pequena cidade se acomoda no meio das colinas. No frio, a neblina encobre seus contornos e empresta-lhe um ar de mistério. O sol do inverno realça-lhe a simplicidade.
Na única avenida, as lojinhas, bares e restaurantes de fachada enfeitada, fazem de tudo para seduzir quem passa. A avenida nada mais é do que uma rua de seis metros de largura, de paralelepípedos e uma calçadinha. Os visitantes se apertam e se trombam na calçada, com suas sacolas de compras, seus óculos de sol, ávidos por novidades.
De dia, aquele burburinho. O sol deixa tudo mais bonito. De noite, a música dos bares e a calma dos namorados. Os casais passeando, sem pressa. Gente velha e gente nova. Todo lugar tem café e chocolate. Entramos num cantinho para nos abrigar do frio.
Neste silêncio, posso ouvir de novo as vozes das nossas conversas, empacotadas a meses esperando um lugar e um tempo para acontecer.
Quantas coisas sem falar. Mas será que é preciso falar tudo?
Será que a fala é um registro fiel do que sentimos ou do que vemos?
Tenho obsessão pelas palavras.
Talvez o silêncio se preste melhor como testemunha de certas circunstâncias.
Talvez ouvir apenas o bater de um outro coração além do seu próprio seja mais do que suficiente. Seja um presente.
As cidades são como as pessoas, querem ser amadas, querem ser lembradas.
Não há como pensar só em si vendo tão sublime paisagem.
Acontece que a mão do homem a tudo quer dominar, mas não se pode dominar aquilo que é sublime. Posso somente me render.
O orvalho da noite cai, testando-nos a vontade de andar na rua.
Continuamos de mãos dadas, andando devagar, enfrentando o frio.
Fazia tanto tempo que a gente não se olhava. Aqui parece que estamos a salvo, por enquanto.
Quando voltarmos para casa, a pressa da nossa vida vai nos consumir de novo, e de novo ficaremos longe um do outro, incomunicáveis. Nos falaremos sem nos olhar. Nos esbarraremos no corredor daquela casa imensa. Estaremos ocupados e aflitos.
Arquivaremos nossas conversas por mais alguns meses, até as próximas férias.
Mas como eu gosto de olhar você. Esparramado na cadeira tão pequena, você parece enorme. Distraído, com as pernas estiradas no meio do caminho, atrapalhando a passagem, você não sabe da sua ternura que me amolece.
Não há como resistir à força da delicadeza.
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"Não há como resistir à força da delicadeza"
ResponderExcluircomo sempre, cheia de razões e emoções essa minha amiga linda....
Lindo texto!
Beijos no coração!
Aiii que delicia tiiaa!!
ResponderExcluircom a descrição dá pra imaginar... deve ser um lugar muito gostosoo!
te amo
fica com Deus
:*